terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fábrica mais antiga de Brusque vai comprar tecido pronto da China


Tecidos Carlos Renaux, criada em 1892, suspendeu produção de fio e começará a distribuir tecidos chineses



Dois anos depois que se aposentou da presidência da Tecidos Carlos Renaux, a indústria têxtil mais antiga do polo de Brusque, Rolf Bückmann, de 70 anos, reassumiu a gestão da companhia em dezembro do ano passado para evitar o seu colapso.
Com a crise do algodão, a empresa ficou sem caixa para comprar matéria-prima e pagar os salários e por pouco não quebrou. No plano de salvamento da companhia, Bückmann apostou em duas medidas polêmicas: a venda da unidade de fiação e importação de tecidos prontos, para distribuição no Brasil.Dois anos depois que se aposentou da presidência da Tecidos Carlos Renaux, a indústria têxtil mais antiga do polo de Brusque, Rolf Bückmann, de 70 anos, reassumiu a gestão da companhia em dezembro do ano passado para evitar o seu colapso.

Foto: Ron Lima/FotoArena
Rolf Bückmann, presidente e acionista da Tecidos Carlos Renaux
O primeiro contêiner com 55 mil metros de tecidos chineses chegará ao Brasil em 30 dias. Eles serão revendidos com a marca Renaux para atacadistas de tecido e confeccionistas que abastecem as grandes redes de varejo do Brasil. “Não comprávamos nada dos chineses, mas agora esse é meu desenho estratégico. É mais barato e eles têm condições melhores para produzir”, diz Bückmann, que junto com seu irmão detém metade das ações da companhia.

O processo ainda é lento no setor de fios e tecidos de alto valor agregado, um dos pontos fortes do polo de Brusque. Mas, em regiões onde o principal segmento da indústria têxtil é formado por confecções, o nível de desindustrialização é maior. “Em Jaraguá do Sul, cerca de metade das indústrias distribui produtos chineses”, afirma Schlösser.A decisão da Renaux é um exemplo do processo de desindustrialização pelo qual passa a cadeia têxtil brasileira. Em vez de produzir no país e enfrentar a competição com a China, as indústrias optam por importar e distribuir produtos asiáticos. “É uma desindustrialização. Mas, hoje, os casos de empresas bem-sucedidas no setor têxtil são os de empresas que fazem isso”, afirma Marcos Schlösser, presidente do sindicato das indústrias têxteis da região de Brusque.
Dinheiro rápido
A Renaux quer conseguir 30% do seu faturamento com a distribuição de produtos chineses. A empresa já fabricou tecidos populares até o final da década de 90, mas saiu do mercado justamente por não conseguir competir com os importados asiáticos. O foco atual da empresa são os tecidos de alta costura que atendem grifes como Richards, Le Lis Blanc e Brooksfield.

Foto: Ron Lima/FotoArenaAmpliar
Antiga fiação da Teecidos Carlos Renaux, unidade foi vendida neste mês
A distribuição de produtos importados é uma das iniciativas da Tecidos Carlos Renaux para tentar obter  uma geração de caixa mias rápida. Outra decisão neste sentido foi a venda da unidade de fiação, acertada há duas semanas.
Até janeiro, a Renaux produzia 95% dos fios usados nos seus tecidos. Mas, além de a operação de fiação ser deficitária, o sistema aumentava os prazos do fluxo de caixa da companhia. O ciclo formado entre comprar algodão, fabricar fios, transformá-los em tecidos, vender e receber os pagamentos levava cerca de 180 dias. Esse prazo vai cair pela metade agora que a empresa vai comprar fios prontos.
Para reestruturar a empresa, Bückmann precisou deixar para trás as emoções. Engenheiro mecânico e eletricista, ele é o autor do projeto da fiação que acaba de vender. “Foi difícil. É mais difícil desaprender um negócio do que aprender”, disse. Avaliada em R$ 40 milhões, a unidade foi vendida pela metade do valor à metalúrgica Irmãos Fischer, que ocupa o terreno de frente. 
O coração também ficou de lado na hora de gerenciar a equipe. Parentes e funcionários antigos foram afastados da empresa. E os representantes comerciais agora terão que cumprir metas de vendas.
As ações visam dar continuidade à primeira indústria têxtil do polo de Brusque. Bisneto do fundador da companhia, o imigrante alemão e cônsul Carlos Renaux, Bückmann diz que não deixa mais o comando da empresa. “Só saio daqui quanto eu morrer”, diz. “Não, não é verdade. Quando eu tiver 105 anos posso pensar em me aposentar de novo”, corrige.
Procurada pelo iG, a Irmãos Fischer não quis se pronunciar.
Rodrigo de Melo (esq.), Valdonei Silveira e Marcio Machado (dir), funcionários da Schlösser, indústria de tecidos de Brusque que está parada
Foto: Ron Lima/FotoArena
Rodrigo de Melo (esq.), Valdonei Silveira e Marcio Machado (dir), funcionários da Schlösser, indústria de tecidos de Brusque que está parada


Fonte: IG Economia