Volta Redonda
Quando o inverno chega os artesãos, no geral, lucram com a confecção de cachecóis, casacos, luvas e toucas, entre outros artigos que têm a lã e a linha como materiais básicos. No entanto, em decorrência da alta do preço dos artigos à base de algodão, lojistas e artesãos estão estimando um inverno frio também para as vendas.
Acontece que todas as linhas fabricadas com 100% de algodão sofreram alta de preços, assim como toalhas de bordado, fitilhos, fitas e laçarotes que têm o algodão como um dos materiais de produção. O aumento de peças, em alguns casos, chegou a ultrapassar mais de 400%. Foi o que contou o representante comercial de uma indústria de lãs e linhas, Maurício de Souza. De acordo com ele, os altos preços retrataram a alta procura pelos produtos que, por conta da venda externa para a Ásia, estão cada vez mais escassos no país.
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- Ano passado o algodão baixou muito de preço, e isso fez com que os produtores plantassem safras menores. Isso provocou a falta de produtos este ano e, consequentemente, o aumento do preço. Além disso, o Brasil vendeu muito para países asiáticos, o que fez com que os produtos ficassem ainda mais difíceis de serem encontrados a baixo preço no país - justificou.
Souza, que representa uma fábrica que fornece linhas e lã para todo o Brasil, afirmou que sua empresa teve que aumentar o valor dos produtos - principalmente os com 100% de lã - em pelo menos 16%, o que, segundo ele, não ficou dentro do ideal de rentabilidade, mas garantirá a manutenção dos clientes da empresa.
- Se aumentássemos os produtos na mesma proporção que aumentaram o algodão não seria viável para nossos clientes manterem as compras. O aumento já foi alto e seria ainda muito maior, a empresa teve que arcar com parte do aumento na tentativa de manter a compra dos clientes - afirmou.
Quem também tem sofrido com a elevação dos preços de artigos artesanais são os comerciantes. Uma delas, Rosemary Novaes - que possuiu uma das mais tradicionais lojas de artigos para artesanato em Volta Redonda -, conta que as vendas já diminuíram por conta da alta dos valores e que isso deverá chegar logo ao bolso do consumidor final.
- Tivemos produtos que realmente aumentaram muito. Alguns estavam com o preço estagnado por mais de três anos, mas em meados de abril vêm sofrendo aumento constante. Uma linha que até mês passado custava R$6,10 agora está saindo por R$7,50. Uma outra, que era R$6,90 passou a R$7,80. Até para nós o aumento assustou - disse ela.
A comerciante lembra que o período de inverno é de grande procura de linhas e lãs, mas que mesmo com o frio que vem fazendo ela já teria sentido uma queda nas vendas.
- Ainda não pudemos quantificar de quanto vem sendo a baixa, mas percebemos que as pessoas estão pensando muito antes de comprar. Afinal quem trabalha com artesanato depende do lucro para viver e de agora em diante nem tudo tem valido a pena fazer - admitiu.
Competição será desigual entre magazines e artesãos
Embora o trabalho artesanal seja muitas vezes o preferido entre as pessoas por conta da exclusividade, a possibilidade de escolha do material e a customização das peças, os artesãos que vivem do seu trabalho no inverno temem que este ano a competição entre eles e os grandes magazines seja ainda mais injusta.
Para a artesã Vilma Maria da Silva Nascimento, que é moradora do bairro São Critovão, em Volta Redonda - e trabalha com crochê e tricô há pelo menos 20 anos -, este deve ser um inverno ruim para quem vende peças artesanais.
- As lojas fazem grandes encomendas casacos, e competir com eles é difícil com as linhas no preço atual, nossos preços tendem a aumentar e não há consumidor que resista - disse ela, que só fará peças por encomenda.
Já a artesã Maria Luiz de Almeida, que atua há cinco anos no ramo, lembra que desde que começou a trabalhar com bordados nunca soube de uma alta tão grande quanto a atual.
- Não sei como vai ser isso. Está todo mundo falando que o preço está muito alto. Eu vendo pano de prato a R$10, mas, com o aumento do material, se vender a R$15 vou ganhar quase nada. Vai ser difícil manter os fregueses assim - lamentou.
Fonte: Diário do Vale